Tuesday, December 11, 2007

tarde linda de um domingo azul

então aconteceu de corrermos ao supermercado. não tinha lista de compras. era com quase apenas instinto que palpávamos as prateleiras. mas tínhamos nossas predileções. e óbvio, saímos com uma garrafa de vinho. passamos na sua casa, e ela, cuidadosamente, colocou na sacola duas taças. fomos para a praça. forramos a grama com uma toalha e nos acomadamos, confortavelmente, sem nenhuma pressa. a vista - o céu - e a distância que estávamos de quase tudo fazia-nos suspiros! era tarde de um domingo. dessas que nos afunda pelo núcleo. mas não era só profundeza, havia também algo de simples e raso. assim, como numa crosta. eram as conversas sobre o cotidiano, confissões de flertes e amores proibidos. algo adulto, mas sereno. e foi assim, mais ou menos assim, que lhe enviei, dias depois, tarde linda de um domingo azul: as tardes de maio possuem a peculiar força do tempo. o tempo em que se aprende. elas não são mais as revoltas e extravagantes cargas elétricas do relâmpago, típicas do verão. e nem o pé direito estreito do inverno que prenuncia. elas trazem um céu imenso e limpo. azul e profundo. que de tão infinito e forte, dói. e quase nada ousa atravessá-lo. fica ali, prestes e te fitar uma carícia. ela não chega, sente-na apenas se aproximar, e volta. então você aprende, embora limitado, aprende além. entende agora, a dor e a alegria de ser o que é.

Saturday, December 8, 2007

fazenda do tanque

por aqui o tempo não passou tão depressa. tudo ainda é lento e calmo. até mesmo no verão, o horário continua sendo o de Deus. isso faz, até mesmo das mais remotas lembranças algo não muito distante. é reconhecível em cada canto uma precisão de detalhes que assusta até os ainda jovens. na memória tudo tem cara de ontem. às vezes me assusto, outras apenas me acalento. o barulho da água da bica. a folha de fumo no varal pra secar até virar tabaco. a terra batida. a conversa ao pé do ouvido, com tom de conspiração, do tipo mineiro cismado. uma coisa de primitivo paira no ar.

pedacinho de pessoa

quando o verão me passa pela cara a mão leve e quente da sua brisa, o que penso eu do mundo?
sei lá o que penso do mundo!
penso com os olhos e com os ouvidos
e com as mãos e os pés
e com o nariz
e a boca.
sou místico, mas só com o corpo.
a minha alma é simples.
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alberto caeiro